segunda-feira, 30 de julho de 2012

Jó 10

A minha alma tem tédio da minha vida; darei livre curso à minha queixa, falarei na amargura da minha alma. Direi a Deus: Não me condenes; faze-me saber por que contendes comigo. Parece-te bem que me oprimas, que rejeites o trabalho das tuas mãos e resplandeças sobre o conselho dos ímpios? Tens tu porventura olhos de carne? Vês tu como vê o homem? São os teus dias como os dias do homem? Ou são os teus anos como os anos de um homem, para te informares da minha iniqüidade, e averiguares o meu pecado? Bem sabes tu que eu não sou iníquo; todavia ninguém há que me livre da tua mão. As tuas mãos me fizeram e me formaram completamente; contudo me consomes. Peço-te que te lembres de que como barro me formaste e me farás voltar ao pó. Porventura não me vazaste como leite, e como queijo não me coalhaste? De pele e carne me vestiste, e de ossos e nervos me teceste. Vida e misericórdia me concedeste; e o teu cuidado guardou o meu espírito. Porém estas coisas as ocultaste no teu coração; bem sei eu que isto esteve contigo. Se eu pecar, tu me observas; e da minha iniqüidade não me escusarás. Se for ímpio, ai de mim! E se for justo, não levantarei a minha cabeça; farto estou da minha ignomínia; e vê qual é a minha aflição, porque se vai crescendo; tu me caças como a um leão feroz; tornas a fazer maravilhas para comigo. Tu renovas contra mim as tuas testemunhas, e multiplicas contra mim a tua ira; revezes e combate estão comigo. Por que, pois, me tiraste da madre? Ah! se então tivera expirado, e olho nenhum me visse! Então eu teria sido como se nunca fora; e desde o ventre seria levado à sepultura! Porventura não são poucos os meus dias? Cessa, pois, e deixa-me, para que por um pouco eu tome alento. Antes que eu vá para o lugar de que não voltarei, à terra da escuridão e da sombra da morte; terra escuríssima, como a própria escuridão, terra da sombra da morte e sem ordem alguma, e onde a luz é como a escuridão.



Diante da situação em que se encontra, Jó decide apelar a Deus, pois sabe que Ele tem consciência do que Jó vive. Diante do reconhecimento do cuidado de Deus por sua vida em momentos anteriores, Jó questiona o motivo de Deus agir como está agindo. É como se Deus criasse uma situação de extremos para que o contraste entre o passado e presente seja ainda mais gritante e terrível. Este é o momento de maior desespero no livro. Jó sente que Deus percebe os mínimos pecados, temendo o que sofreria se fosse culpado dos grandes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário