quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Jó 19

Respondeu, porém, Jó, dizendo: Até quando afligireis a minha alma, e me quebrantareis com palavras? Já dez vezes me vituperastes; não tendes vergonha de injuriar-me. Embora haja eu, na verdade, errado, comigo ficará o meu erro. Se deveras vos quereis engrandecer contra mim, e argüir-me pelo meu opróbrio, sabei agora que Deus é o que me transtornou, e com a sua rede me cercou. Eis que clamo: Violência! Porém não sou ouvido. Grito: Socorro! Porém não há justiça. O meu caminho ele entrincheirou, e já não posso passar, e nas minhas veredas pôs trevas. Da minha honra me despojou; e tirou-me a coroa da minha cabeça. Quebrou-me de todos os lados, e eu me vou; e arrancou a minha esperança, como a uma árvore. E fez inflamar contra mim a sua ira, e me reputou para consigo, como a seus inimigos. Juntas vieram as suas tropas, e prepararam contra mim o seu caminho, e se acamparam ao redor da minha tenda. Pôs longe de mim a meus irmãos, e os que me conhecem, como estranhos se apartaram de mim. Os meus parentes me deixaram, e os meus conhecidos se esqueceram de mim. Os meus domésticos e as minhas servas me reputaram como um estranho, e vim a ser um estrangeiro aos seus olhos. Chamei a meu criado, e ele não me respondeu; cheguei a suplicar-lhe com a minha própria boca. O meu hálito se fez estranho à minha mulher; tanto que supliquei o interesse dos filhos do meu corpo. Até os pequeninos me desprezam, e, levantando-me eu, falam contra mim. Todos os homens da minha confidência me abominam, e até os que eu amava se tornaram contra mim. Os meus ossos se apegaram à minha pele e à minha carne, e escapei só com a pele dos meus dentes. Compadecei-vos de mim, amigos meus, compadecei-vos de mim, porque a mão de Deus me tocou. Por que me perseguis assim como Deus, e da minha carne não vos fartais? Quem me dera agora, que as minhas palavras fossem escritas! Quem me dera, fossem gravadas num livro! E que, com pena de ferro, e com chumbo, para sempre fossem esculpidas na rocha. Porque eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a terra. E depois de consumida a minha pele, contudo ainda em minha carne verei a Deus, vê-lo-ei, por mim mesmo, e os meus olhos, e não outros o contemplarão; e por isso os meus rins se consomem no meu interior. Na verdade, que devíeis dizer: Por que o perseguimos? Pois a raiz da acusação se acha em mim. Temei vós mesmos a espada; porque o furor traz os castigos da espada, para saberdes que há um juízo.



Jó neste capítulo sai do sentimento de abandono e demonstra uma fé incrível. Jó descreve tudo o que está sofrendo, em especial, o abandono por parte daqueles que são os mais chegados, tanto na família, quanto amigos. Mais uma vez põe seus olhos no futuro e demonstra esperança apesar de seu presente. No final do texto, há uma clara referência messiânica quando Jó declara ter fé no seu Redentor ou, como em outras traduções, naquele que me defende, ou ainda, justificador. Jó crê que seu redentor o declarará justo, não culpado dos pecados que lhe imputam. Apesar de não ter consciência plena do significado de suas palavras, ele não conseguia se conter diante da idéia de ver seu defensor.

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