quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Jó 30

Agora, porém, se riem de mim os de menos idade do que eu, cujos pais eu teria desdenhado de pôr com os cães do meu rebanho. De que também me serviria a força das mãos daqueles, cujo vigor se tinha esgotado? De míngua e fome se debilitaram; e recolhiam-se para os lugares secos, tenebrosos, assolados e desertos. Apanhavam malvas junto aos arbustos, e o seu mantimento eram as raízes dos zimbros. Do meio dos homens eram expulsos, e gritavam contra eles, como contra o ladrão; para habitarem nos barrancos dos vales, e nas cavernas da terra e das rochas. Bramavam entre os arbustos, e ajuntavam-se debaixo das urtigas. Eram filhos de doidos, e filhos de gente sem nome, e da terra foram expulsos. Agora, porém, sou a sua canção, e lhes sirvo de provérbio. Abominam-me, e fogem para longe de mim, e no meu rosto não se privam de cuspir. Porque Deus desatou a sua corda, e me oprimiu, por isso sacudiram de si o freio perante o meu rosto. Å direita se levantam os moços; empurram os meus pés, e preparam contra mim os seus caminhos de destruição. Desbaratam-me o caminho; promovem a minha miséria; contra eles não há ajudador. Vêm contra mim como por uma grande brecha, e revolvem-se entre a assolação. Sobrevieram-me pavores; como vento perseguem a minha honra, e como nuvem passou a minha felicidade. E agora derrama-se em mim a minha alma; os dias da aflição se apoderaram de mim. De noite se me traspassam os meus ossos, e os meus nervos não descansam. Pela grandeza do meu mal está desfigurada a minha veste, que, como a gola da minha túnica, me cinge. Lançou-me na lama, e fiquei semelhante ao pó e à cinza. Clamo a ti, porém, tu não me respondes; estou em pé, porém, para mim não atentas. Tornaste-te cruel contra mim; com a força da tua mão resistes violentamente. Levantas-me sobre o vento, fazes-me cavalgar sobre ele, e derretes-me o ser. Porque eu sei que me levarás à morte e à casa do ajuntamento determinada a todos os viventes. Porém não estenderá a mão para o túmulo, ainda que eles clamem na sua destruição. Porventura não chorei sobre aquele que estava aflito, ou não se angustiou a minha alma pelo necessitado? Todavia aguardando eu o bem, então me veio o mal, esperando eu a luz, veio a escuridão. As minhas entranhas fervem e não estão quietas; os dias da aflição me surpreendem. Denegrido ando, porém não do sol; levantando-me na congregação, clamo por socorro. Irmão me fiz dos chacais, e companheiro dos avestruzes. Enegreceu-se a minha pele sobre mim, e os meus ossos estão queimados do calor. A minha harpa se tornou em luto, e o meu órgão em voz dos que choram.



Jó diz que está sendo desprezado por pessoas de baixa condição as quais em outro tempo ele ajudara. A miséria também vem da alma e do corpo de Jó. Ele sofre com suas doenças. Por fim, sua dor vem do alto. O seu Deus o lançou num abismo e mostra-se indiferente a seu sofrimento. Com tudo isso Jó se sente mais perto dos animais do que dos homens, por não se sentir digno da companhia desses.

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