domingo, 12 de agosto de 2012

Jó 21

Respondeu, porém, Jó, dizendo: Ouvi atentamente as minhas razões; e isto vos sirva de consolação. Sofrei-me, e eu falarei; e havendo eu falado, zombai. Porventura eu me queixo de algum homem? Porém, ainda que assim fosse, por que não se angustiaria o meu espírito? Olhai para mim, e pasmai; e ponde a mão sobre a boca. Porque, quando me lembro disto me perturbo, e a minha carne é sobressaltada de horror. Por que razão vivem os ímpios, envelhecem, e ainda se robustecem em poder? A sua descendência se estabelece com eles perante a sua face; e os seus renovos perante os seus olhos. As suas casas têm paz, sem temor; e a vara de Deus não está sobre eles. O seu touro gera, e não falha; pare a sua vaca, e não aborta. Fazem sair as suas crianças, como a um rebanho, e seus filhos andam saltando. Levantam a voz, ao som do tamboril e da harpa, e alegram-se ao som do órgão. Na prosperidade gastam os seus dias, e num momento descem à sepultura. E, todavia, dizem a Deus: Retira-te de nós; porque não desejamos ter conhecimento dos teus caminhos. Quem é o Todo-Poderoso, para que nós o sirvamos? E que nos aproveitará que lhe façamos orações? Vede, porém, que a prosperidade não está nas mãos deles; esteja longe de mim o conselho dos ímpios! Quantas vezes sucede que se apaga a lâmpada dos ímpios, e lhes sobrevém a sua destruição? E Deus na sua ira lhes reparte dores! Porque são como a palha diante do vento, e como a pragana, que arrebata o redemoinho. Deus guarda a sua violência para seus filhos, e dá-lhe o pago, para que o conheça. Seus olhos verão a sua ruína, e ele beberá do furor do Todo-Poderoso. Por que, que prazer teria na sua casa, depois de morto, cortando-se-lhe o número dos seus meses? Porventura a Deus se ensinaria ciência, a ele que julga os excelsos? Um morre na força da sua plenitude, estando inteiramente sossegado e tranqüilo. Com seus baldes cheios de leite, e a medula dos seus ossos umedecida. E outro, ao contrário, morre na amargura do seu coração, não havendo provado do bem. Juntamente jazem no pó, e os vermes os cobrem. Eis que conheço bem os vossos pensamentos; e os maus intentos com que injustamente me fazeis violência. Porque direis: Onde está a casa do príncipe, e onde a tenda em que moravam os ímpios? Porventura não perguntastes aos que passam pelo caminho, e não conheceis os seus sinais, que o mau é preservado para o dia da destruição; e arrebatado no dia do furor? Quem acusará diante dele o seu caminho, e quem lhe dará o pago do que faz? Finalmente é levado à sepultura, e vigiam-lhe o túmulo. Os torrões do vale lhe são doces, e o seguirão todos os homens; e adiante dele foram inumeráveis. Como, pois, me consolais com vaidade? Pois nas vossas respostas ainda resta a transgressão.



Jó se defende mais uma vez de Zofar. Ele tem consciência de que sua queixa não é contra homem, mas contra Deus, ainda assim se expressa pois não tem como ser desonesto. Jó mostra que a teoria de seus amigos tem quase que a pretensão de ensinar a Deus a governar, ao invés de aceitar os fatos como na realidade são. Por fim, Jó desconstrói a visão de que os que morrem com prosperidade e paz são justos e os que morrem na miséria são ímpios.

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